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sexta-feira, setembro 23, 2005

De olhos fechados


A luz começa a quebrar e as sombras avançam pelos telhados da cidade. As casas ganham volume e as cores parecem mais definidas. E quentes.
O castelo, ao fundo, permanece ao sol mas a sombra vai tingindo a encosta. O azul do rio reflecte o azul do céu e distingue-os uma neblina púrpura, ainda muito leve e fina. Mais tarde, quando toda a cidade estiver à sombra, essa neblina há-de tornar-se espessa e cor de cinza. Em certas noites chega a tomar conta do céu, como se fosse um imenso véu. Ou um manto que cobre a cidade e nos protege antes da noite cair.
Os pássaros voam mais livres ao entardecer e cruzam-se vertiginosamente no ar. (…) O vento sopra morno e as vozes, longínquas, descombinam-se com os gritos dos pássaros alegres e tudo soa a verão e calor. As janelas, abertas até ao limite, deixam ver a cidade e quase todo o rio. Os barcos passam, muito lentos, deixando na água riscos de um azul quase tão escuro como a noite que se anuncia.
Atrás das casas, entre os jardins de palmeiras e buganvílias, há um pátio de pedras antigas (…) onde agora não se vê ninguém. Um pátio desabitado que, em breve, voltará a ser cuidado.
Tenho saudades desses dias que hão-de vir. Fecho os olhos com força e vejo outros olhos fechados. Conheço a sua intensidade e sei de cor a sua cor. Abro os meus devagar para não chorar. A noite caiu.
As luzes do castelo estão acesas e iluminam as muralhas. São luzes amarelas, muito baixas, que deixam ver a consistência das pedras antigas e sublimam a perfeição dos ângulos. Vistos de longe, os pinheiros mansos ganham contornos e parecem ainda mais belos e inspiradores.
Depois das luzes do castelo acendem-se duas linhas rectas ao longo do rio e só então, surgem as estrelas da ponte que tocam o céu e brilham a noite inteira.
E eu continuo aqui, a pensar em ti. A guardar o pátio com o olhar e a lançar sobre ele toda a nostalgia dos dias que passaram e daqueles que hão-de vir. E deixo-me ficar aqui pois é aqui que quero estar.

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"Nostalgia" - Laurinda Alves
Era capaz de jurar que este texto foi escrito da minha janela... mas não foi. Apenas apoia o meu pensamento, quando olho para o outro lado do rio, da minha janela, e consigo fechar os olhos e ver o que não está lá.
Um beij0... Cat

2 Comments:

  • At outubro 12, 2005 1:52 da manhã, Blogger R. said…

    as vezes deixas-me sem palavras.. nao sao muitas... esse texto, se calhar, foi escrito da janela de cada um... basta fechar os olhos....

     
  • At outubro 13, 2005 1:04 da manhã, Blogger Nuno Fernandes said…

    num entardecer como mtos outros depois de um dia de trabalho e muita agitação afastei-me um pouco das pessoas e frente ao tejo com vista para lisboa... as luzes ja acessas, uma brisa suave percorria a minha face, um silência que enchia todo o espaço so quebrado por um avião que sobrevoava a grande altitude.... senti que se salta-se conseguia apanha-lo... conseguia voar.

    -Epa, n era nada preparado... mas ao ler o que tinhas escrito deu-me na cabeça e escrevi isto... axo q tb vou escrever no meu blog :P.... bjinhos e gostei mto do teu!

     

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